"NÃO CHUTEI O PAU, MAS NA ATUAL BARRACA NÃO ENTRO MAIS"

Postado por Webmaster
25 de Dezembro de 2014

O ex-vereador e atual vice-prefeito Nelson Gonçalves Pinto, o Nelsinho do Posto, descontente com as ações realizadas pela prefeita Ana Preto e de alguns membros da sua equipe, resolveu se afastar da atual administração.
Nelsinho foi Secretário da Saúde do Município, onde desenvolveu um trabalho considerado muito bom. Sempre presente nos postos de atendimento, ele conseguiu resgatar a confiança dos pacientes, a autoestima dos funcionários e o respeito de todos, apesar das dificuldades que teve de enfrentar. Segundo a prefeita Ana Preto, “o vice-prefeito foi fundamental no processo de reestruturação da saúde municipal, quando a mesma se encontrava num completo caos”, mas ainda assim foi destituido do cargo, aparentemente, sem motivo ou justificativa.
Esse episódio, entre outros, abalaram a fé do vice-prefeito na prefeita e seus assessores, vendo a atual administração afastar-se dia a dia das propostas de campanha, motivo pelo qual aderiu ao grupo.
Acompanhe a entrevista, que demonstra a insatisfação do vice-prefeito, figura que conta com a admiração de muitos e que, apesar de tudo, afirma que vai cumprir seu mandato até o fim, pois para isso que foi eleito.
Acontece: Recentemente você declarou que está fora do governo Ana Preto. Por quê?
Nelsinho: Por não concordar com as atitudes, os rumos e as decisões políticas que estão se distanciando das propostas previstas no plano de governo, motivo da minha adesão ao grupo. A insatisfação me levou a tomar a decisão de me afastar do governo, mas continuarei a exercer meu mandato em respeito à população, pois para isso fui eleito.
Acontece: O que se vê hoje na cidade é que essa insatisfação é geral. Na realidade o que existe é a falta de compromisso com os parceiros, fornecedores e com a população de modo geral. Esse quadro tem condições de ser revertido?
Nelsinho: Essa insatisfação é consequência de tudo isso que você está relatando, porque não ajudar o comércio de Peruíbe é um problema, mas daí você atrapalhar o comércio é um problema muito maior. Quando se está exercendo o poder que lhe foi delegado e não age corretamente, não honrando os compromissos firmados com as pessoas da cidade é o que causa, com toda a razão, a insatisfação de todos. A cidade está de todo ruim? Eu acho que não, pois têm coisas boas acontecendo, fruto de muito trabalho e que têm continuidade, mas no geral a impressão que fica é a de que está tudo ruim. Infelizmente.
Acontece: Você creditaria isso à falta de transparência, diálogo ou comando, até porque na realidade as pessoas se perguntam: afinal quem é que manda na Cidade?
Nelsinho: Realmente é verdadeira essa questão, mas quem manda é a prefeita. É ela que delega poderes, toma as decisões e assina. Não tem outras pessoas que mandam, mas com certeza têm pessoas que influenciam, não se sabe em que grau, a tomada das decisões. Mas a decisão final é dela e se existem pessoas influenciando estão, com certeza, influenciando errado.
Acontece: É do conhecimento de todos, os problemas da Saúde no Brasil, mas você vinha desenvolvendo um bom trabalho na Secretaria da Saúde, onde a população sentia que, apesar das dificuldades, havia um cuidado e até mesmo carinho das pessoas envolvidas. Por que você saiu?
Nelsinho: Essa pergunta deveria ser feita para a prefeita e não pra mim, até porque eu não fui consultado sobre a minha saída, eu fui apenas comunicado que sairia. Apenas fiquei sabendo que havia conversas e negociações, que o Dr. Rubens assumiria a Saúde, mas quando isso foi decidido eu não estava presente. Foi uma decisão da prefeita e a mim só restou acatar.
Acontece: Na época, a prefeita declarou que o motivo da decisão é que ela precisava de você mais atuante no governo como um todo, isso aconteceu?
Nelsinho: Não aconteceu e eu sequer fui avisado sobre isso. Apesar de tudo, como vice-prefeito, tenho que procurar entender esse tipo de decisão política do governo. Encaro o fato como normal e não tenho nada que reclamar sobre a minha saída ou sobre quem assumiu a Saúde, mas entendo que se devia avaliar a questão como um todo. Se estava dando certo e tudo funcionando bem, eu não vejo porque deveria ter sido trocado naquele momento. Era um final de temporada, uma fase bastante estressante, principalmente na área da Saúde, porque é o período em que a cidade passa de 60 para até 400 mil habitantes e onde em teoria todos podem precisar a qualquer momento desse serviço essencial. Foi muito des-gastante ser responsável pelo bom desempenho de tudo aquilo, mas eu vou sempre agradecer a prefeita pela oportunidade. Foi uma experiência fantástica poder conhecer como a Saúde funciona, conhecer as pessoas que ali trabalham. Pessoas dedicadas que se doam e que amam o que fazem e que brigam sim pelos seus direitos, mas que brigam também por melhores condições de trabalho para oferecer o melhor atendimento possível. Posso afirmar que na Saúde de Peruíbe isso é quase que unânime, todos os envolvidos se desdobram para dar o melhor.
Acontece: Você citou a importância da oportunidade de aprender. Recentemente a prefeita fez um desabafo responsabilizando a oposição, a mídia é até parte da população pela má administração que ela vem realizando. Isso revela de maneira clara que ela não vem aproveitando a oportunidade que a população deu a ela de aprender a administrar a cidade. Você não acha que está na hora dela dar uma oportunidade para que alguém com um pouco mais de experiência faça isso?
Nelsinho: Essa sim é uma decisão única e exclusivamente dela. Ela precisa ter a consciência daquilo que está fazendo. Entender se o que vem realizando está sendo bem ou mal feito. Ela precisa tomar pé de suas atitudes e o que sua administração está fazendo é bom ou ruim para a cidade. Se feliz ou infelizmente, não sei, a democracia nos permite escolher quem vai nos comandar e se essa pessoa vai bem ou mal, a certeza é que a população é quem sofre as consequências.
Acontece: Pela sua afirmação podemos dizer que a população atirou no que viu e acabou acertando no que não viu ou queria ver. Estamos sendo governados pelas influências é isso?
Nelsinho: Não sei se é bem isso, acho que estamos sendo administrados de uma maneira não tão consciente e não fazendo juízo de valor se certo ou errado, quem vai julgar é a população. A visão que eu tenho como comerciante é que a cidade deve ser governada voltada para o setor comercial, até porque nós não temos indústrias e é o comércio e a construção civil que movem a economia da cidade. Esses são os setores que geram mais empregos e riquezas para todos e se esses setores estão bem tudo melhora. E como comerciante, há muitos anos, posso afirmar que não apenas essa, mas até mesmo as administrações anteriores, não tiveram essa visão.
Acontece: A exemplo do seu relato sobre os servidores da Saúde que trabalham com dedicação, podemos observar que na atual administração tem muita gente boa no que faz, mas que também estão insatisfeitos com o trabalho que vem sendo desenvolvido. Fazendo uso de grande parte dessa mesma equipe que está lá se arrastando sob o comando da prefeita, você acredita que com bom senso, vontade, um pouco mais de experiência e principalmente compromisso, é possível reverter essa incômoda situação a médio prazo?
Nelsinho: Eu acredito que sim, dá pra reverter sim. O que a gente precisa ter é humildade e admitir os erros, valorizar os acertos e reconhecer as necessidades. Eu olho para algumas das nossas cidades vizinhas e tenho estado em contato constantemente com o prefeito Marco Aurélio de Itanhém. Lá vem acontecendo um modelo de desenvolvimento muito bom, principalmente pelas decisões políticas acertadas que vêm oferecendo oportunidade de crescimento à cidade. Hoje o que eu faria seria tomar como referência as ações que estão dando certo. Trocar experiências, talvez seja isso que esteja faltando. Um envolvimento e uma participação mais efetiva das ações e do desenvolvimento regional, pra gente poder se autoavaliar, saber o porquê, corrigir o que for necessário e manter o que está trazendo bons resultados. Acho que na experiência de quatro mandatos, dois como vereador e agora dois como vice-prefeito pude constatar que a impressão é a de que o prefeito quando senta na cadeira do gabinete não enxerga mais nada além daquelas quatro paredes. Fica ali estático esperando as informações e quem traz as informações, traz apenas as informações que quer. Você tem que sair daquelas quatro paredes e ver o que está realmente acontecendo. Ver que aqui em Peruíbe muita gente ainda passa fome e isso é inadmissível, não podemos aceitar isso nessa cidade que é bonita e alegre, que tem tudo para crescer e não cresce.
Acontece: Essa dificuldade para o crescimento se deve à falta de compromisso?
Nelsinho: Exatamente isso, falta de humildade e compromisso.Tem que haver um maior envolvimento e isso talvez responda a sua afirmação de que quando eu estava na Saúde as coisas vinham melhorando. Estava dando certo pelo envolvimento e pelo compromisso que eu tinha, não apenas com a Saúde, mas com a cidade como um todo. O envolvimento e empenho em querer aprender como funcionava, coisa que em meus 14 anos de vida pública eu não tinha esse conhecimento e hoje eu tenho. Sempre falei que é difícil, mas não é impossível enfrentar e resolver os problemas complexos de uma administração pública. É preciso manter o foco naquilo que é melhor para toda a cidade.
Acontece: Digamos que se de repente o Espírito Natalino, carregado humildade e de boa vontade tomasse conta da prefeita e ela te procurasse dizendo: volta Nelson porque eu preciso da sua ajuda para sair dessa incômoda situação. Qual seria a sua resposta?
Nelsinho: Hoje com esse grupo acho muito difícil ter algum envolvimento. Um grupo para ser saudável e eficaz, tem que ser formado por pessoas dispostas não só a propor suas ideias, mas principalmente a ouvir e ponderar as ideias de todos os participantes desse grupo, para se chegar num consenso onde a possibilidade de erros são sensivelmente reduzidas. Participar de um grupo onde você não é ouvido, suas ideias não são levadas em consideração e sequer é participado das decisões que serão tomadas, já não é mais um grupo e apenas torna sua participação como uma figura meramente decorativa. Não me considero mais e nem vejo nenhuma possibilidade de fazer parte desse grupo. Volto a afirmar que continuo vice-prefeito atento a tudo o que está acontecendo, pois devo isso a população de Peruíbe.
Acontece: Concluindo: hoje a sua decepção é maior do que a sua fé?
Nelsinho: (risos) Não a minha fé é muito maior.
Acontece: Eu (Heitor) digo nas pessoas que fazem parte do grupo da atual administração.
Nelsinho: (risos novamente) Não. Nessas pessoas não, a decepção é muito maior e eu não consigo acreditar mais nelas.
Acontece: Faça suas considerações finais.
Nelsinho: Quero desejar a todos um Feliz Natal e Ano Novo, e que as pessoas mantenham a esperança de dias melhores. Eu não quero mais fazer parte desse grupo, mas quero que esse grupo dê certo e faça uma boa administração, pois quem sai ganhando é a nossa cidade. Desejo que a prefeita seja iluminada e possa estar fazendo o seu melhor, para poder atingir aquilo que nós dois programamos e pregamos na campanha, que foram os motivos pelos quais abri mão da minha própria candidatura. Se ela resgatar esses compromissos tenho a certeza de que a cidade estará muito bem.
JORNALACONTECEPERUIBE em 25/12/2014


comentários
Faça um comentário

Cadastre seu email